Um
dia desses enquanto eu assistia ao pôr-do-sol, uma garota se aproximou e
disse: “Por que você vem a essa janela todos os dias assistir o sol se
pondo sempre do mesmo jeito?” Eu, sem saber o que responder, apenas tive
certeza naquele instante de que havia algo de diferente na forma que
meu coração processava certas sutilezas. E assim, eu cresci. Assim, o
tempo se passou. Assim, eu assisti mais outros infinitos pores-do-sol
sem conseguir enxergar um deles sequer como “sempre do mesmo jeito”.
Assim, eu cresci sabendo que em um relacionamento os dias serão como o
pôr-do-sol: similares, porém nunca os mesmos.
Mas
no cotidiano amoroso atual, quem mais sabe disso? Quem mais consegue
admirar o amor todos os dias sem a necessidade de um constante brilho
novo? Quem mais consegue se contentar; saber esperar; e amar o que o dia
te oferece? Existe um desespero pela necessidade de atualizações dentro
do amor que acaba tornando-o inviável, invivível.
Assim, o argumento acaba se tornando sempre o mesmo: o cansaço.
As pessoas se cansam dos beijos, dos abraços, das transas. As pessoas
se cansam da estabilidade de andar de mãos dadas, de seguir em uma única
direção. Se cansam de sonhar, de planejar, de conquistar — no momento
certo — algo novo para a vida do casal. E por isso, o amor de verdade é
trocado — em forma de uma moeda injusta — por uma vida fria, vivida com
gente que pouco se importa, com companhias que não duram mais do que 5
minutos na boca, enchendo cada vez mais os copos, esvaziando cada vez
mais o coração.
O
fato é que não somos de ferro e iremos sim nos cansar. Nos cansamos do
trabalho, dos estudos, da rotina em si, por que não nos cansaríamos do
amor? Porém, todas as coisas que fazem um pôr-do-sol nunca ser igual ao
outro, deveriam também ser as mesmas que mantivessem as mãos dadas pelo
caminho da vida a dois. Se o coração não souber se contentar com
o mesmo sorriso largo no rosto, com o mesmo abraço que protege corpo,
com a mesma transa que agrada a carne dia após dia, o amor perde o
propósito de existir, dando lugar a similares estações de ônibus, que se
desembarca a fim de saciar vontades em um curto período de estadia.
Mas
eu continuarei aqui, sabendo apreciar o céu, o sol, e tudo o que nunca
será igual, mesmo que parecido. Permanecerei doce, mesmo com tanto amor
amargo de quem me confundiu com uma dessas estações e se assustou quando
descobriu que, na verdade, eu era casa afim de transformá-la em lar.
Por
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