segunda-feira, 23 de maio de 2011

O OUTRO COMO ESPELHO ( POR Melissa Classen )



POR MELISSA CLASSEN

Talvez a gente nunca saiba quem realmente a gente é, as manias que se tem até conviver com outra pessoa.  É estranho pensar assim, pensar que precisamos de outro alguém para nos conhecermos, ou melhor dizendo, aceitarmos quem somos. Sim, porque o mais difícil é admitirmos alguns defeitinhos, maniazinhas que enquanto não incomodam ninguém a gente vai alimentando, achando que é tudo muito normal e que ‘’eu sou assim e pronto’’. Porém com a convivência a dois percebemos, às vezes até de maneira dolorosa, o quão chatos, maniáticos somos e que o mundo não gira em torno de nós e que, infelizmente, ainda não temos um chip que conste nossas informações pessoais e ‘’modo de usar’’.
Não é simplesmente a pasta de dente apertada no meio, a toalha molhada sobre a cama, a calcinha pendurada no banheiro, são outras coisas que nós não notamos, como  jeito de falar, um olhar de desaprovação, um silêncio que diz tudo, a forma com que se senta na cadeira, atitudes que são desvendadas num choque quando  o outro começa uma frase dizendo; ‘’Tu não te dá conta que...’’ e diz uma coisa que a gente sabe que faz e que ao mesmo tempo negamos e nos fazemos de desentendidos ao sermos confrontados, ‘’apresentados’’ a esses pequenos atos.
Pequeno pra quem age, enorme para quem tem que lidar com isso. Não é muito fácil ter de lidar com um mau humor desde a primeira hora do dia e não saber o que fazer para melhorá-lo. Obviamente a gente pergunta, faz aquela indagação onde a resposta é que a gente fica na dúvida se pergunta de novo para ter certeza, finge que acredita ou tenta adivinhar citando várias coisas que poderiam ser, mesmo sabendo que, naquele momento, porque em algum lugar outro o ‘’nada’’ de ontem se torna algo enorme de uma hora pra outra e traz à tona coisas que nem imaginávamos (é por isso que não adianta tentar adivinhar).
Conviver é uma arte que requer paciência, tolerância e muito bom humor para aturar os dias de cão do outro. Isso não é novidade nenhuma. Poetas, filósofos, cientistas, manicures, garçons, todos sabem disso e há muito tempo falam com grande propriedade sobre o assunto para quem quiser ouvir, mas a gente só aprende na prática, e põe prática nisso.
A verdade é que o outro jamais vai ser da maneira que queremos. Se nós já não somos do jeito que a gente quer ou gostaria de ser, se mal conseguimos mudar um tiquinho de nada a nós mesmos (quando milagrosamente percebemos que é preciso mudar), vamos querer dar um jeito no outro que há anos cultiva seus hábitos, manias e esquisitices? Tenha dó, né!
Como já diz o título do filme, alguém tem que ceder, de preferência os dois, porque um só uma hora cansa.
Entretanto, nem tudo são espinhos, muito pelo contrário. Com o outro aprendemos muito, inclusive podemos somar ao nosso próprio repertório manias (boas e ruins) do outro.
Por mais que a gente tente se enxergar, nosso melhor espelho é o outro. O ‘’espelho, espelho meu’’, não mente nunca (só exagera, às vezes) e é por isso que de vez em quando a gente quer estilhaçá-lo em pedacinhos no chão, mas aí ficamos sem reflexo, o que é bem pior. Então por mais que o espelho nos mostre as imperfeições que nos acompanham pela vida, acredite que é bem melhor do que jamais se ver.
Como eu já falei (e um monte de gente também), bom humor é essencial, então quando o tempo clarear ria do que aconteceu.
Outra coisa que é muito importante: ficar batendo na mesma tecla, falando de algo do outro que nos incomoda todo dia pode piorar a situação. Jeitinho é sempre bom! Tudo na vida tem ‘’jeito e jeito’’ de dizer, então escolha o melhor, deve haver um.
Dividir o dia a dia com alguém, ter alguém roncando do seu lado, reclamando da sua comida, deixando a roupa pela casa, pode parecer estranho, mas é uma das melhores coisas da vida, acredite!

POR MELISSA CLASSEN


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