quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Tudo quase igual


   Cada um tem uma mania para fugir, alguns se escondem em um lugar só seu, viajam,  outros possuem uma espécie de ritual, um cantinho da casa, um momento único, eu, apenas escrevo, errado, torto, sem nexo, sem moral às vezes até sem contexto, mas foi assim que aprendi a desabafar, aliviar, me consolar, somente assim consigo me expressar sendo realmente sincera.

    A grande maioria do que escrevi antigamente  dificilmente releio, pois me fazem lembrar os sentimentos bons, ruins e péssimos, de uma fase com muitas turbulências, mas ontem achei em minha bagunça um texto de 2001 que dizia:
 "...não entendo as pessoas, todas tendem a mostrarem-se felizes e alguns segundos depois começam a citar problemas e mais problemas, eu nunca sei o que respondo, talvez porque não quero dizer nada, ou talvez se soubesse a resposta, não seria tão ruim nas aulas de redação. Nunca consegui escrever sobre um respectivo tema imposto, apenas sobre sentimentos, que não me darão um dez..."

    O incrível disso é que passaram-se 13 anos e ainda tento entender as pessoas, me entender, entender o mundo. Não obtive grande parte das repostas. Tenho uma enorme dificuldade de escrever por imposição, mas, descobri por que era péssima em redação? Odiava a professora!
 
 
 
 http://cotidianopublico.blogspot.com.br/

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

E VOCÊ SOUBESSE





 O luto é lento. O homem pode disfarçar transando, separando o sexo do arrebatamento, tentando se relacionar à força, saindo com os amigos, aparecendo em festas, mas o luto é lento. Se você soubesse como é difícil o homem amar, como é raro o homem amar. O quanto é difícil. O quanto não será fácil acontecer outra vez. Amor é desde o primeiro encontro, chuta a porta, arrebenta o trinco, esculhamba a vida. Amor não é convencimento, persuasão, escolha do que é perfeito, do que se encaixa com o nosso temperamento. Amor não é compatibilidade, afinidades eletivas, prazer da companhia. É o improvável, é o inesperado, é o desconhecido. É um mistério absurdamente desafiador, ingrato e perigoso. Vai além da amizade, do controle, do domínio, do interesse. Amor é ser incompetente para compreender. É se despedir beijando, é se despedir indicando o contrário. E muitas vezes se afastar não é se despedir - é apenas sofrer, agora sozinho, a falta de entendimento. Se você soubesse o quanto é complicado para o homem se abrir para alguém, atingir a cumplicidade e a confidência. Homem não fala tudo para os amigos, homem fala o que pode. Mas o homem fala tudo para a mulher que ama, fala o que não imaginava falar um dia. A palavra é a última reserva masculina, a última guarida. Ele somente se confessa na intimidade. Ao se separar, o homem perde a palavra. Talvez queira compensar com atos e bravatas, porém perde a palavra. Pode se vingar com o sexo, só que não é ele, não há brilho contumaz em seus olhos, não há a façanha da esperança, não há insegurança que o deixa seguro do que sente. Se você soubesse a exclusividade do amor masculino. A adoração do amor masculino. A loucura do amor masculino. A insistência secreta do amor masculino. Se você soubesse que jamais será substituída, trocada, apagada. Que talvez ele nunca diga isso porque vão brigar antes. Talvez ele nunca agradeça o que recebeu ou o que ofereceu porque não terá oportunidade ou se calará diante de sua descrença. Você já não confia nele. Você é feita do extremo, da renúncia, como toda mulher: ou é ou não é, ou mente ou conta a verdade, ou demonstra ou está fingindo. Não é assim que funciona para o homem. Homem é confuso, é incoerente, ele é mentira e verdade junto, brincadeira e seriedade misturadas, não tem como discernir. Se você soubesse. Ele acordará bem num dia, mal num outro, vai cercar o coração com a razão, e seguir adiante. Seguir adiante não é superar, é se acostumar com a dor. Não confie na aparência feliz, o pássaro que canta pode estar chorando. O luto demora, pois não existe para ele, que continua casado por dentro. Se você soubesse o quanto ele te ama. E melhor ainda se você acreditasse.

  Arte de Gabriel Garcia
   Fabrício Carpinejar